Prefacio do livro “Depressão onde está Deus?”- escrito pelo padre Léo em 2003.
Depressão! Onde está Deus? Sem dúvida nenhuma, a pergunta título desse livro resume não somente um rico conteúdo baseado na experiência científica e na fé de um médico cristão, mas sobretudo, resume e expressa o espanto e o questionamento feito por todos aqueles que passam ou passaram pela terrível experiência da depressão, ou que estejam passando por problemas e por situações aparentemente insolúveis.
O espanto expresso na exclamação e a dúvida questionadora que tenta responder ao espanto remete-nos a uma certeza: enquanto não se achar Deus, não se acha o caminho para a cura da depressão. Afinal de contas, se depressão é a síndrome que nos “empurra para baixo”, seu único contrário, portanto, sua cura, é um “puxar para cima”.
Aqui está a síntese do cristianismo: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do Alto, e não nas da terra, pois morrestes e vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,1-2). O ser humano precisa descobrir, com urgência urgentíssima, sua vocação para o Alto. Foi o encardido que criou essa história de que a gente precisa se conformar com as coisas.
O cristão é chamado a não se conformar com esse mundo (cf. Rm 12,1-2). E o jeito de não se conformar é ultrapassar, ir além, ou seja, transcender. Transcendência é uma palavra bonita e muito usada na filosofia, psicologia e em teologia e quer dizer: ultrapassar subindo! Isso mesmo: o único jeito de realmente resolver um problema é achar uma solução que nos impulsione para o alto.
Nossa vocação é o céu, e isso não é para depois da morte, mas é um projeto que precisa ser construído em vida, com a vida. Em nenhum momento o excelente texto do Dr. Roque afirma que a pessoa tem depressão porque está sendo castigada por Deus. Que ninguém pense uma bobagem dessa! Que ninguém pense que a depressão é o jeito que Deus achou para fazer a pessoa cair em si mesma e assim voltar para ele. A ausência de Deus, presente no título, no texto e no contexto desse livro, é biblicamente corretíssima.
O que a Bíblia afirma, e o Dr. Roque, baseado em sua experiência e em seus múltiplos estudos nessas áreas, confirma, é que sem Deus é impossível a pessoa sair desse buraco em que se meteu ou para o qual foi empurrada. Outra coisa maravilhosa, que aparece especialmente por meio dos testemunhos, é que quando a gente encontra Deus, por pior que seja nossa situação, tudo se transforma. O Deus revelado por Jesus Cristo é aquele que transforma nossas tristezas em alegrias (cf. Jô 16,20b). O encontro com Jesus é sempre um começo pleno. Jesus nunca fez nenhuma pergunta sobre o passado de nenhuma pessoa. E essa foi uma prática constante em seu ministério. Por pior que fosse a pessoa, ou o problema da pessoa, Jesus questionava sempre a partir do presente, daquilo que a pessoa queria ser e não aquilo que ela foi ou que lhe aconteceu. Jesus é o presente do Pai. Ele é sempre presente. Nele existe um eterno e terno HOJE.
O Deus de Jesus é o Deus da vida plena (cf. Jô 10,10). Essa vida plena, que todos almejamos, consciente ou inconscientemente, é impossível sem a restauração do nosso espírito. Quando o ser humano abandona seus valores espirituais, acaba caindo nas mãos do nada. Para sair da depressão é preciso encontrar uma certeza: por pior que seja a situação que a pessoa esteja vivendo, existe uma saída: em Cristo somos mais do que vencedores. Deus não nos abandona, nunca! Jesus desceu ao fundo dos infernos para dizer claramente a todos que nenhum ser humano foi criado para a perdição. O mal nunca é vontade de Deus. O ser humano foi criado para o infinito, para o alto. Mas Deus não pode intervir em nossa liberdade, nem mesmo quando a usamos para o pecado ou dela abusamos.
O mal é conseqüência de nosso afastamento de Deus e de seu projeto. O mal é conseqüência da desumanização gerada por um ateísmo cada vez mais prático. O aumento do número de pessoas deprimidas está diretamente relacionado ao abandono da fé, ao aniquilamento das relações familiares, ao fim das verdadeiras amizades. O homem moderno vive uma vida “light”, onde tudo que ele busca pode ser resumido no prazer a todo e qualquer custo, no consumismo que consome, na permissividade que não respeita limites e num relativismo onde tudo é subjetivo. O centro desse mundo light é o próprio homem com seus desejos lights, alicerçado num materialismo cada vez mais coisificante.
Nesse mundo light vive um ser humano alienado, sem valores e sem referenciais. E isso gera um vazio espiritual e moral. Embora tenha muita coisa, esse ser humano é infeliz, porque tudo o que tem é passageiro, descartável, temporário e não gera compromisso. Nesse mundo que se auto-destrói, este livro tem um peso de convite-convocação: é preciso sair dessa planície esburacada. Vejo, na escrita e na vida do Dr. Roque, um grande apelo para que não nos amoldemos a essa vida sem sentido. É preciso fugir dessa Sodoma-Gomorra-Moderna. E para não fugir é preciso estar consciente do perigo, saber para onde ir e não ter medo de deixar tudo o que precisa ficar para trás. Aliás, sem essa decisão, é impossível achar o rumo certo, transcendente! É preciso ouvir de cada linha deste maravilhoso livro o mesmo apelo que um dia Deus fez ao seu servo Lot: “Salva-te se queres conservar tua vida. Não olhes para trás, e não te detenha em parte alguma da planície; mas foge para a montanha, senão perecerás” (Gn 19,17).
A pedagogia de Deus num extremo carinho para Lot e para sua família é um caminho importante que precisamos aprender a seguir. É como se Deus lhe dissesse (e nos dissesse também): Queres conservar tua vida? Então existem três coisas fundamentais a se fazer:
1. Suba para a montanha – Subir para a montanha significa achar um ideal de vida. Saber aonde queremos chegar. Significa abrir novos horizontes. O mundo se afasta para deixar passar todo aquele que sabe para onde vai.
2. Não te detenhas em parte alguma da planície – Não se perder nos problemas cotidianos. Não se deter por coisas pequenas. Saber relegar aquilo que não é importante. Não existe nenhuma pessoa no mundo que não tenha passado ou não esteja passando por problemas. Faça dos problemas um impulso para a vitória.
3. Não olhes para trás – Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida. O passado não interessa. Afinal de contas, quem se prende ao passado acaba se transformando, como a mulher de Lot, numa estátua de sal (cf. Gn 19,26), que significa: uma pessoa parada, deprimida, voltada demais para si mesma… Então, na grande caminhada que temos, jamais podemos perder tempo com coisas que não sejam absolutamente essenciais e importantes. Outra coisa muito importante: viva como alguém que vai morrer um dia.
Infelizmente muitos vivem como se não fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido. Tudo o que temos e tudo o que somos nós iremos perder! Quem não perde não ganha! Essa é a lógica de Cristo. É importante ressaltar que a certeza da perda não deve nos provocar uma superficialidade na vida e em nossos relacionamentos. Não é porque vou morrer que vou viver de qualquer jeito. Não. O fato de saber que vou perder deve levar-me a saborear cada minuto da convivência com as pessoas, com Deus, comigo mesmo, com a natureza e com o mundo. O fato de saber que vou perder deve levar-me a saborear a vida, degustá-la com parcimônia!
Veja: o pássaro, mesmo preso numa gaiola, continua cantando. Não existem gaiolas no mundo que sejam capazes de silênciar o canto do pássaro. Seu canto vem de dentro! Assim também, nada nem ninguém podem fazer-nos felizes ou infelizes. Somos feitos para o infinito, logo, temos fagulhas desse infinito dentro de nós. Os problemas não podem aprisionar nossos sonhos e nossos projetos, por isso mesmo não podemos nos deter na planície e nem olhar para trás. É preciso encontrar nossa montanha. Esse esquema de salvação apresentado pelo autor sagrado se adapta perfeitamente a todas as situações difíceis de nossa vida: doença, morte, perda de bens materiais, dependência química, depressão etc.
Precisamos encontrar em Jesus a força para nossa trascendência: a pessoa só conseguirá sair de uma situação que empurra para baixo, quando se encontrar com Alguém que a impulsiona para o Alto. Agradeço a Deus a graça de estar presente nesse presente de Deus que é o livro de Dr. Roque. Posso testemunhar o bem imenso que seu primeiro livro, “Milagres que a medicina não contou”, fez e continua fazendo para muitas pessoas. Sou grato a Deus por tudo que foi escrito naquele livro. Mais grato sou ainda por tudo que você agora saboreará deste novo texto. Leia com a delicadeza de quem recebeu um presente de Deus. Saboreie suas páginas. Leia também suas entrelinhas. Agradeço ao amigo querido pela coragem em convidar-me com tanta gente mais bem preparada, para prefaciar este texto. Saí lucrando! Li, reli, saboreei e estou tendo a graça de aplicar muito do seu conteúdo em meu ministério de Cura Interior e na restauração dos filhos e filhas que Deus me concedeu."
Depressão, onde está Deus?
Arquivado em: Depressão — Dr. Roque Savioli
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
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